sábado, 1 de novembro de 2008

Prevendo o imprevisível

Interessantes apontamentos de Jairo Nicolau. Segundo pesquisas feitas, há pouca relação, ou melhor, há pouco respaldo (até hoje) em "previsões" para as eleições subseqüentes para presidente e governador em relação aos resultados das eleições majoritárias municipais. Ao contrário, há relação próxima entre os resultados das Câmaras municipais com os das Assembléias Legislativas e do Câmara dos Deputados.

Ao fim das eleições

28/10/08

Jairo Nicolau

Dia seguinte à eleição municipal é quase lei: abra um jornal e você encontrará um analista comentado como a disputa ajudou a montar o quebra-cabeça (ou jogo de xadrez, a metáfora varia) das próximas eleições gerais. Percorra o jornal mais um pouco e você vai se deparar com um inevitável quadro com a lista de vencedores e perdedores do pleito. O espírito é o mesmo: apontar para a disputa de 2010.

Desde 1996 aprendi a olhar esses prognósticos com um certo cuidado. Naquele ano, os então prefeitos do Rio de Janeiro, Cesar Maia, e de São Paulo, Paulo Maluf,  encabeçavam a lista de vitoriosos. Eles tinham eleito dois nomes absolutamente desconhecidos (Luiz Paulo Conde e Celso Pitta) como seus sucessores. Os prognósticos apontavam Maia e Maluf como nomes fortes na disputa presidencial de 1998. Mas a história não confirmou as previsões. Os prefeitos eleitos brigaram com os seus “padrinhos”; a emenda da reeleição aprovada em 1997 (não prevista pelos analistas de 1996) permitiu a recandidatura de Fernando Henrique Cardoso em 1998; Cesar Maia e Paulo Maluf acabaram concorrendo para governador em seus estados, sendo derrotados respectivamente por Anthony Garotinho e Mário Covas.

Dois anos representam um tempo muito longo na instável política partidária brasileira. E fatores externos freqüentemente afetam as previsões feitas na segunda-feira pós-eleitoral. Alguns desses podem ser imaginados (uma reforma política; os efeitos da crise econômica no próximo ano; os inevitáveis conflitos intra-partidários). Mas outros fatores são impossíveis de prever.

Correlação de Pearson

Para avaliar se a votação dos partidos na disputa municipal estava associada aos resultados de dois anos depois, fiz um teste estatístico (conhecido como correlação de Pearson), com dados de eleições anteriores. Para minha surpresa, descobri que a votação de Lula em 2006 tem correlação zero com a votação que o PT obteve para prefeito dois anos antes. A correlação dos votos do PSDB para prefeito e os votos de Alckmin em 2008 também são insignificantes. 

As únicas associações estatísticas significativas foram encontradas nas eleições proporcionais. Existe uma correlação moderada entre os votos dos partidos para as Câmaras dos Vereadores e os votos destes para a Assembléia Legislativa e Câmara dos Deputados dois anos depois. Sabemos que os vereadores são fundamentais na rede de apoio montadas pelos candidatos a deputado federal e estadual. E os números  confirmam essa associação.

Uma observação das eleições para vereadores já oferece um primeiro indicativo da próxima Câmara dos Deputados. Se o padrão de eleições anteriores se repetir, podemos dizer que, independentemente de quem seja o próximo presidente, a câmara deve continuar tão (ou mais) fragmentada como a atual. Três partidos (PMDB, PSDB e PT) terão bancadas maiores (entre 60 e 100 deputados) e um grande número de partidos terá bancadas menores.

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