segunda-feira, 30 de março de 2009

Fiquei de postar este artigo há alguns dias. Saiu na Gazeta Mercantil de 13/03. Nele, Klaus Schwab, diretor do Fórum Econômico Mundial (sim, aquele amaldiçoado por muitos) reflete sobre as novas formas de governança que podem emergir da crise. Artigo interessante, que coloca o indispensável papel da governança (considerada em sentido amplo, incluindo diversos atores) para evitar a "desintegração do mundo".

Gazeta Mercantil
Unidos contra a desintegração do mundo
Data: 13/03/2009
Crédito: Klaus Schwab
Essa é uma crise de transformação que terá profundos efeitos em nosso mundo globalizado. Nos últimos dias, no encontro anual do World Economic Forum (WEF), em Davos, Suíça, iniciamos a tarefa de moldar coletivamente essa transformação. Um dos objetivos alcançados durante o encontro foi dar apoio para governos e instituições de governança - especialmente o G20. Davos foi apenas o ponto de partida para um caminho longo e penoso. Entretanto, ao reunir líderes mundiais, conseguimos entender melhor a origem da crise e quais são as medidas necessárias para revitalizar a economia global. A oficialização do apoio de quatro governos integrantes do G8 para o diálogo no processo do G20 no período que antecede a cúpula de abril, em Londres, foram passos iniciais muito importantes. A reunião dos principais ministros do comércio de 17 economias e dos 27 membros da UE para evitar políticas de protecionismo, é uma demonstração do significado concreto desse espírito. E ao reunir o presidente do G20, o primeiro-ministro Gordon Brown, com vários chefes de estado, membros do G20 da África, Ásia e América Latina para debater os riscos no sistema financeiro e como estabilizar a economia mundial, foram dadas as primeiras diretrizes para lidar com a crise por meio de uma abordagem coletiva. Além disso, os debates realizados no encontro também aumentaram ainda mais minha crença de que a mudança climática não deve ser apenas tratada como um fator secundário, mas precisa representar, pelo menos, uma parte importante do renascimento econômico. As empresas estão começando a incluir o meio ambiente como peça fundamental de seus planos futuros. Nesse cenário de crise, as tecnologias verdes não devem representar uma indústria "adicional" ou de contribuição marginal. Esse é um debate altamente relevante para o ano de 2009. Em dezembro, negociações estão agendadas para um tratado sobre mudanças climáticas para dar continuidade ao Protocolo de Kyoto. Não devemos mais falar em energia "alternativa" - existe apenas a energia sustentável para impulsionar a economia do futuro. Nessa área, os executivos presentes em Davos concordaram em avançar em algumas iniciativas específicas para acelerar a integração de práticas sustentáveis aos negócios. Um dos principais resultados de Davos foi que, apesar da turbulência econômica, um número recorde de representantes da indústria, de governos e várias outras partes interessadas escolheu se reunir para debater os desafios globais que enfrentamos e responder a essas questões. Espero que a vontade de trabalhar em conjunto, atravessando geografias e setores empresariais, políticos e da sociedade civil, seja o fator que diferencie essa crise da que ocorreu nos anos 30. Esse senso de cooperação e determinação coletiva visível em Davos me traz algum otimismo no sentido de sermos capazes de trabalhar para sair dessa situação. É fácil diminuir a capacidade de mudança dessa força motriz, chamando-a de sonho. Entretanto, se existe algo que aprendemos coma crise dos últimos seis meses é que a confiança deve ser a base de qualquer recuperação. Por último, sabemos que nada disso funcionará sem uma revisão honesta e profunda dos nossos valores e ética. As empresas precisam examinar com atenção seus sistemas de remuneração e governança. Empresários, legisladores, agências de regulamentação e consumidores devem levar em conta os excessos causados pela ambição excessiva. No mundo interligado de hoje, a ganância de curto prazo não é uma base coerente para otimizar a tomada de decisões. O impacto das nossas ações hoje, que também deve ser refletido em gerações futuras, nunca foi tão importante - nosso código de ética e sistemas de governança e regulamentação deve refletir essa nova realidade. Essas medidas representam apenas a etapa inicial dessas soluções, e o trabalho de verdade começa agora. Devemos nos unir para evitar a desintegração do nosso mundo.

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