Como avaliar quem saiu vencedor nas eleições municipais
Eleições municipais no Brasil têm sempre muitos vencedores e quase nunca perdedores. Contados os votos, os dirigentes partidários sempre arrumam um jeito de fazer com que sua legenda saia bem das urnas. E não é difícil que isso aconteça. Basta escolher a estatística eleitoral que lhe favoreça. As opções são diversas: número de prefeitos eleitos, votação para prefeito e número de vereadores eleitos. Sem contar nas diversas agregações por tipo de cidade: capitais; cidades com dois turnos; cidades acima de 150 mil habitantes.
Se quisermos avaliar a força dos partidos pelo território nacional a simples contagem de prefeituras não é um bom caminho. A razão é simples: as cidades brasileiras variam significativamente em termos de população e importância política. Se somarmos a população dos 1 362 municípios brasileiros abaixo de 5 mil moradores chegaremos a 4,6 milhões. Menos do que a população da cidade do Rio de Janeiro (6,1 milhões). O que importa, então, sabermos quantas prefeituras um partido conquistou se não soubermos nada sobre a natureza dessas cidades?
Outro problema de considerar as prefeituras obtidas como critério é que em muitas cidades os partidos não apresentam candidatos próprios, preferindo apoiar o de outras legendas. O PT não apresentou candidato próprio 
Por isso, o melhor indicador para avaliar o poder dos partidos pelo país é a votação para vereador. Se um partido tem um mínimo de organização em uma determinada cidade, ele apresenta pelo menos um candidato na disputa para a Câmara Municipal. O partido pode não lançar candidato à prefeitura, pode não participar de coligações, mas certamente concorrerá com pelo menos um nome à vereança. Por isso, quando somamos os milhares de esforços dos militantes dos partidos por todo o país temos um bom quadro da real inserção do partido.
A tabela abaixo apresenta a votação final obtida pelos principais partidos brasileiros na disputa para as Câmaras Municipais nas três eleições realizadas nesta década.
|     Partido  |        2000  |        2004  |        2008  |   
|     PMDB  |        13,4  |        11,4  |        11,8  |   
|     PT  |        9,4  |        10,7  |        10,3  |   
|     PSDB  |        11,4  |        11,3  |        10,5  |   
|     DEM  |        12,0  |        9,5  |        7,9  |   
|     PP  |        9,2  |        7,5  |        7,1  |   
|     PDT  |        6,8  |        6,3  |        6,6  |   
|     PTB  |        8,0  |        7,0  |        6,2  |   
|     PSB  |        4,2  |        4,6  |        5,9  |   
|     PR  |        5,1  |        6,3  |        5,3  |   
|     PPS  |        4,8  |        5,4  |        4,3  |   
|     PV  |        1,3  |        3,0  |        3,9  |   
|     PCdoB  |        0,7  |        1,3  |        2,1  |   
|     Outros  |        13,7  |        15,7  |        18,1  |   
Percentual de votos para vereador: 
eleições de 2000, 2004 e 2008
 
Os números mostram que a votação dos partidos sofre pequenas alterações de uma eleição para outra. Nenhum dos partidos listados perdeu ou ganhou mais de três pontos percentuais entre duas eleições, o que revela uma grande estabilidade na política local, base que sustenta o sistema partidário.
Ao longo da década, os três principais partidos (PMDB, PT e PSDB) mantiveram-se relativamente estáveis. Alguns partidos tiveram pequenos crescimentos (PSB, PC do B e PV), enquanto outros tiveram pequenos decréscimos (PP, PTB, PR).
A mudança mais acentuada aconteceu com o DEM (antigo PFL). O partido era o segundo mais votado em 2000 e agora é o quarto. Seu encolhimento nesta eleição o afasta dos três maiores e o aproxima dos partidos médios. Em resumo: a nova sigla (DEM) não consegui deter a tendência de declínio já vivida pelo PFL.
Muitos analistas sempre buscam encontrar os abalos sísmicos produzidos por uma eleição: Quem ganhou? Quem perdeu? Que forças desapareceram? Que lideranças emergiram? Os dados acima mostram que, pelo menos no âmbito municipal, a metáfora do terremoto não é a mais apropriada. As eleições deste ano, mais uma vez, produziram apenas pequenos movimentos nas placas tectônicas do sistema partidário brasileiro.
Por Jairo Nicolau (Blog Veja – Eleições - 16 de outubro de 2008)
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