Amorim diz que interesses comerciais e políticos justificaram incidente diplomático
da Folha Online, em Brasília
O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) justificou nesta segunda-feira a decisão do governo brasileiro de convocar para retornar ao Brasil o seu embaixador no Equador, Antonio Marques Porto, ao afirmar que a diplomacia brasileira, apesar de defender a integração sul-americana, deseja ver "respeitados" os seus interesses na região. Amorim disse que o incidente diplomático com o Equador não foi provocado "de coração leve, com prazer ou satisfação" pelo governo brasileiro, mas pela necessidade do país preservar os seus interesses comerciais e políticos.
"Nós lamentamos. Nós não fazemos isso de coração leve, com prazer ou satisfação. O Brasil tem um grande empenho na integração sul-americana, um grande empenho em ajudar os países mais vulneráveis da região, claro que também sempre respeitados os nossos interesses. Agora, para que isso ocorra, certas condições também têm que estar presentes. Isso nós quisemos significar com esse chamado a serviço [do embaixador]", afirmou.
Amorim disse que o governo brasileiro foi pego de surpresa com a decisão do governo equatoriano de suspender o pagamento de dívida contraída com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no total de US$ 243 milhões, para a construção no país da usina hidrelétrica San Francisco.
O ministro disse que, na véspera do anúncio equatoriano, o embaixador brasileiro em Quito se reuniu com o vice-ministro de Relações Exteriores do país vizinho e nada foi dito a respeito do empréstimo do BNDES.
"Desta vez, sem que tenha havido nenhuma pré-notificação ao Brasil --nós sabíamos coisas por vazamentos, declarações feitas à imprensa que muitas vezes eram não autorizadas --nós não sabemos que algo parecido poderia estar em cogitação", afirmou.
Amorim disse que o governo brasileiro não adotou postura semelhante com a Bolívia, quando houve invasão em refinaria da Petrobras, porque houve recuo do presidente Evo Morales --além da medida ter sido anunciada antes de ser efetivada.
"Não há nenhuma mudança de política externa. O que há são situações diferentes, diversas, por vários motivos. No caso da Bolívia era processo que vinha se desenhando. Eu transmiti ao presidente Morales o nosso desconforto. Uma semana depois ele retirou a ocupação. Embora tenha sido um gesto que tenha tido no plano simbólico um lado que não tenha nos agradado, ele se inseriu no meio do processo de negociação", afirmou.
Embaixador
Sem deixar o tom diplomático de lado, Amorim sinalizou que não há prazo para o embaixador Antonio Marques Porto retornar ao Equador. "Ele veio para consultas. As consultas não terminaram", disse o ministro.
A convocação do embaixador para retornar ao Brasil foi vista como um duro recado diplomático ao governo de Correa --que lamentou a decisão do governo brasileiro, mas garantiu que o pais não mudará de posição.
Amorim disse que, desde o telefonema entre Correa e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no último sábado (22), não houve nenhum outro contato do Equador em busca de uma solução para a crise diplomática.
As relações entre o Equador e o Brasil estão estremecidas desde que o presidente Rafael Correa decidiu expulsar do país a construtora Odebrecht, acusada de cometer falhas na construção da hidroelétrica San Francisco.
Correa assinou um decreto retirando o visto de funcionários da construtora Odebrecht e, na prática, expulsando-os do país. No mesmo decreto, Correa revogou ainda os vistos de cinco funcionários da também brasileira Companhia Furnas Centrais Elétricas.
O governo brasileiro chegou a adiar uma missão ao país vizinho que estava agendada para o mês passado em reação à decisão do Equador de expulsar a Odebrecht. Na ocasião, a ministra equatoriana María Isabel Salvador chegou a admitir abalos na relação com o Brasil.
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