Transigências na Política Externa
Agora, na questão da revisão das tarifas de Itaipu e da aspiração paraguaia de receber mais pela energia exportada para o Brasil, volta-se a falar que nosso governo vai sucumbir. Será mesmo? Será que só tivemos derrotas, que poderiam ter sido vitórias?
Marcos Coimbra
Com a eleição de Fernando Lugo para presidente do Paraguai, o tema das relações do Brasil com seus vizinhos voltou à tona. Para uma grande parte da imprensa e dos setores que formam o núcleo da opinião pública, a discussão retorna quente: todo mundo acha que o Brasil está prestes a dar mais uma demonstração de leniência excessiva.
Nas rodas onde se conversa sobre o assunto, predomina a visão de que o governo Lula tem sido brando demais em suas relações com os países sul-americanos, em especial com os governados pela nova esquerda continental. A pior expressão desse comportamento teria ocorrido quando Evo Morales endureceu com a Petrobras, logo após sua posse. Mas não foi a única.
Naquele episódio, o que as pessoas viram foi a petulância de um pequeno país, cuja economia muito depende da nossa, enfrentando sem medo o vizinho maior, que pestanejou e cedeu. Na batalha do gás boliviano, o Brasil perdeu.
Perdeu outras nos enfrentamentos com Hugo Chávez, que sempre levou a melhor quando quis que suas opiniões prevalecessem. Foi o que aconteceu na questão da entrada da Venezuela no Mercosul, no gasoduto, no Banco del Sur, etc. Nas batalhas venezuelanas, o Brasil perdeu todas.
Agora, na questão da revisão das tarifas de Itaipu e da aspiração paraguaia de receber mais pela energia exportada para o Brasil, volta-se a falar que nosso governo vai sucumbir. Na batalha da eletricidade paraguaia, o Brasil vai perder outra.
Será mesmo? Será que só tivemos derrotas, que poderiam ter sido vitórias? O que, exatamente, são derrotas e vitórias na política externa brasileira, neste momento especifico e perante países como esses?
Para quem está de fora das negociações e pouco conhece do ambiente real em que elas ocorrem, a tentação de achar que poderíamos obter sempre mais vantagens é grande. Mas quais seriam elas?
Dizendo de outra maneira, pensando no caso mais imediato do Paraguai: é mesmo vantagem manter os atuais níveis de remuneração paraguaia ou, ao contrario, poderá ser melhor para o Brasil, em uma visão mais ampla e de prazo mais longo, aceitar que sejam revistos? Que vantagem para nós advém de deixar o garrote apertado na garganta do novo governo paraguaio, que começa um difícil caminho em direção à democracia?
Por trás das críticas a essa tolerância, podem ser identificados dois sentimentos. O primeiro é dos que apenas se opõem ao governo Lula e buscam todas as oportunidades para desgastá-lo. Quem pensa assim sequer precisa saber o que aconteceu mesmo em cada um desses casos. Basta dizer que o Brasil “foi derrotado”.
O segundo é uma versão cabocla do belicismo típico de certas lideranças norte-americanas, que fazem a política externa com os olhos, o vocabulário e os atos da guerra. Em última instancia, quem pensa assim imagina que, se o governo boliviano, por exemplo, nacionaliza uma refinaria, o Brasil deve ir lá para obrigá-lo a devolvê-la pela força, manu militari.
A vasta maioria da sociedade brasileira não concorda com essa visão. Por razões históricas, o nacionalismo nunca assumiu, entre nós, o tom agressivo comum em outros países. Somos nacionalistas sem desejar impor a ninguém nossas receitas e nossos interesses, continuando capazes de enxergar os de nossos interlocutores.
Aliás, quem mais critica essa “brandura excessiva” no trato com os vizinho mais se opõe a que o governo Lula seja “duro demais” nas relações com a União Européia e os Estados Unidos em questões comerciais. Afinal, o que essas pessoas querem? Que sejamos duros com os fracos e flexíveis com os fortes?
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