Os fatores que influenciam o voto dos eleitores
Para quem estuda eleições, o maior desafio é tentar responder a uma pergunta aparente simples: o que explica o voto dos eleitores? Todos os que se dedicam a fazer ou a estudar as campanhas eleitorais têm procurado responder a esta pergunta.
A cada momento de campanha sou procurado por jornalistas desejosos de saber se uma declaração, uma denúncia, uma pesquisa, um apoio influenciam a escolha dos eleitores.
Existem muitos estudos sobre comportamento eleitoral no Brasil, mas ainda estamos longe de compreender as razões que levam os eleitores a preferirem certos candidatos em detrimento de outros. Acreditamos na influência de diversos fatores, mas precisamos de mais pesquisas para tentar responder algumas perguntas: Será que as diferenças sociais (renda, gênero, religião, lugar de moradia, escolaridade) influenciam na escolha? A ideologia e o partido ainda são importantes? A cobertura da mídia influencia? Como as "ondas eleitorais" se propagam? Os debates são decisivos?
Se pensarmos com cuidado veremos que tentar decifrar o "mistério da escolha eleitoral" não é mesmo um tarefa das mais simples. Milhões de pessoas escolhem um candidato em um determinado domingo de outubro. As razões apresentadas vão das mais prosaicas às mais sofisticadas. E cabe a nós, os analistas eleitorais, encontrar neste cipoal uma lista de possíveis fatores que influenciam o voto.
É impossível discutir aqui as principais teorias e modelos que buscaram explicar o voto nas democracias modernas. Minha tarefa será mais modesta. Apresento uma breve reflexão sobre a possível influência de apenas três fatores, que para muitos tem sido decisivos nas eleições brasileiras.
1. As pesquisas
Tenho recebido algumas mensagens sugerindo que a divulgação de pesquisas seja proibida Brasil. O argumento é que as pesquisas influenciariam negativamente os eleitores, sobretudo por conta do fenômeno conhecido como voto útil (os eleitores trocam o seu candidato, em má posição na disputa, por outro, melhor situado nas pesquisas). É bom lembrar que nas eleições municipais as pesquisas são publicadas com regularidade nas maiores cidades, mas em um número expressivo de cidades as pesquisas sequer são realizadas ou divulgadas.
Sabemos que as pesquisas influenciam os doadores de campanha, sabemos que elas afetam o moral dos candidatos e militantes, mas não sabemos o volume de eleitores que decidem seu voto baseado em pesquisas.
Minha desconfiança é que um reduzido contingente de eleitores decida seu voto baseado em pesquisas. Se tivesse que dar um palpite, diria que não mais do que 5%. Mas precisamos de estudos sobre o tema.
2. O horário eleitoral gratuito
No Brasil, os candidatos têm acesso ao mais generoso tempo de rádio e televisão do planeta. Hoje, os gastos mais expressivos dos candidatos estão associados à produção dos programas. Mas, afinal, os eleitores assistem ao horário? A propaganda tem sido decisiva para o eleitor?
É fundamental distinguir a propaganda em cadeia, que é divulgada duas vezes por dia, dos comerciais de 30 segundos divulgados no meio do horário regular de programação. O número de telespectadores e de ouvintes do programa em cadeia tem caído, comparativamente aos das campanhas das décadas de 1980 e 1990. Uma das razões é o crescimento de fontes alternativas de informação e lazer, tais como os canais a cabo e a internet.
Já os comerciais de 30 segundos são vistos e ouvidos por todos que estão conectados aos canais comerciais de rádio e televisão. Isto é, a grande maioria da população. Os comerciais têm se tornado a principal fonte de informação para os eleitores. Não conheço estudos sobre os efeitos dos comerciais, mas apostaria que hoje eles têm sido mais decisivos na campanha do que os programas em cadeia.
3. Os apoios
Um dos mitos desta eleição foi que o apoio do presidente Lula seria decisivo para os candidatos. Alguns candidatos da base governista quase se engalfinharam para obter o apoio presidencial. Ter sido apoiado pelo presidente pode ter dado alguns pontinhos extras para um ou outro candidato. Mas esteve longe de ter sido decisivo.
A razão é simples: as eleições municipais têm se organizado basicamente em torno dos temas locais, com diferentes contornos: a avaliação sobre um determinado prefeito (ou seu candidato); os tradicionais conflitos entre famílias e lideranças locais; a discussão dos problemas que afetam a cidade.
A escolha dos eleitores se dá basicamente tentando encontrar o nome mais adequado para enfrentar os desafios vividos por sua cidade. Por isso, a influência de atores externos à corrida eleitoral municipal (presidente, governadores, senadores, secretários estaduais, ministros) no voto, não tem sido, na maioria dos casos, decisiva.
Blog Jairo Nicolau - Veja - 22/10/08
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